sexta-feira, 14 de junho de 2013

Entre o descaso e a falta de educação

Dia útil, aproximadamente 15 horas, o terminal urbano estava movimentado, afinal, começo de mês as contas precisam ser pagas. Em meio ao aperto de pessoas, reclamando da demora dos ônibus, aproxima-se um casal de idosos, os quais chegaram depois do motorista fechar as portas da linha que vai ao Vila Bertini. Ele com camisa listrada e ela com sacolas nas mãos correram e pararam no ponto, onde o ônibus permaneceu com as portas fechadas. Pediram para abrir, o motorista “não viu” e engatou primeira, mas graças aos gritos dos passageiros e das pessoas que ali aguardavam, o motorista parou no ponto da frente, onde as pessoas que pegam ônibus ao bairro Antonio Zanaga ficam, e permitiu que o casal entrasse.

Do lado de fora era possível ver o aperto. Pessoas grudadas uma nas outras. Cobrador com três botões da camisa abertos, afinal, o calor ali devia estar muito forte, mesmo com as janelas abertas, permitindo entrar o clima do outono americanense.

O casal embarcou, em pé, mas não tem problemas, afinal, aos olhos dos grandes eles não dão lucro, não pagam pela passagem e mesmo com a idade avançada se equilibram na parte da frente, entre curvas e freadas secas, para chegar ao ponto desejado.

Em outra semana, em um aglomerado ainda maior, no mesmo terminal urbano, uma senhora, com cabelos curtos, porte baixo, bengala para deficiente visuais nas mãos, aguardava o ônibus para o destino desejado.

Era por volta das 13h. No terminal tinha estudantes de diversas instituições de ensino. Tinha pessoas com crachá pendurado e expressão de preocupação estampada no rosto. Havia também pedintes, gente vendendo trufas, pessoas com crianças no colo, crianças de mãos dadas aos adultos, idosos e até cadeirantes, porém, minha atenção permaneceu nesta senhora que, cuidadosamente, segurava sua bengala.

Com traços orientais, ela pouco se mexia e aguardava o sinal de uma outra senhora, desconhecida, para avisar qual ônibus estava passando. No ponto, o ônibus com destino ao Jardim Alvorada – Via Nova Americana chegou. Chegou um pouco atrasado, várias pessoas desceram e muitas correram para poder embarcar. O empurra-empurra era nítido, a educação passou longe e aquela senhora, começou a se mexer. Rugas de preocupação formaram-se em sua testa e ela virou-se de costas para o ônibus, procurando, com as mãos e a bengala, um lugar melhor para ficar. Um gritou ardido ecoou dentro dos meus ouvidos. Aquela desconhecida avisava-a que não era aquele o ônibus e com voz tremida, pude ouvir: “Eu imagino que não é esse ônibus, mas preciso de outro lugar, vou tentar sentar”.

Enquanto esperava minha vez de embarcar, entre toda aglomeração, pude acompanhá-la pelo olhar, no banco cinco pessoas, um jovem, um senhor negro dos cabelos brancos, e três mulheres – todos apertados. Ninguém ofereceu o local, até que o senhor dos cabelos brancos, que mal cabia no banco, em um ato de cavalheirismo, pediu para que aquela oriental sentasse.

O banco continuou apertado e entre o descaso do poder público e das empresas responsáveis para com o transporte e a pouca educação dos usuários, aquela senhora continuou sem se mexer, apenas segurando forte sua bengala.

O ônibus saiu e entre o aperto do lado de dentro e a pressa do motorista, meus olhos, fixados no lado de fora, a seguiram enquanto possível e em nenhum momento foi possível perceber um único movimento em seu corpo.

No papel as campanhas para salvar o planeta são lindas. Nas redes sociais o hashtag com a palavra  sustentável parece moda, mas na prática, é algo inexplicável.

O planeta não depende apenas da boa vontade do poder público em criar práticas sustentáveis de desenvolvimento econômico, ele depende de um olhar coletivo, onde o todo ou a maioria desfrute dos benefícios.

Talvez para aquela senhora dos traços orientais pouco interessa se o vereador reuniu-se ou não com representantes de empresas, ela precisa de uma solução, de ficar menos perdida e ser menos atingida quando precisar voltar para a casa. O casal não quer saber quanto se gasta com manutenção de frota, eles precisam de um banco para sentar, de um lugar apoiar-se, de serem tratados como cidadãos e não visto como pessoas sem possibilidade de lucro.

As pessoas que estavam no tumulto, precisavam chegar à algum lugar e talvez a correria não fosse devido à pressa, mas sim ao medo de ficar para trás, de super lotar o carro e a primeira marcha ser engatada, deixando, usuários que pagam passagem e impostos aguardando um novo aglomerado.



Um comentário:

  1. Já vi várias vezes o motorista "não notar" algum idoso querendo embarcar e "sem querer" deixá-lo pra trás.

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