sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

As cabras escaparam. A coragem ficou.


E no dia em que todos falavam sobre o fim do mundo, DanDan, menino dos olhos arregalados, corpo pequeno com apenas uma cueca azul, cabelos embaraçados e sorriso arteiro, mal se preocupava e queria mesmo saber como tirar as cabras do cercado.
Entre a preocupação de sua mãe em ser despejado do local em que reside há sete anos e o olhar aflito de suas irmãs mais velhas, as quais já conseguem entender a situação, o garoto, que já estava com os pés sujos de terra, foi esperto, e sem nenhum ruído tirou a trava  cercado.
Entre a conversa séria dos adultos, sobre violência, desapropriação e brigas, veio um grito:

- As cabras  saíram, corre.

Em seguida correu homem de chapéu e bigode grande, correu a guerreira que falava sobre a luta e também correu repórter e um voluntário do local, os quais estavam curiosos para ver a captura dos animais.

Em um único grito da mulher guerreira, as cabras pararam de correr. No segundo grito enfileiram-se e seguiram de volta para o cercado.

Sentado ao colo de sua mãe, Dandan assumiu aos risos que foi ele quem abriu o cercado e após os risos pela rápida fuga dos animais, a conversa voltou a ser séria, o gravador foi ligado e as lágrimas daquela mulher que trouxe as cabras de volta ameaçaram a cair quando falou da possibilidade em se separar dos filhos.

“Moça, os meus filhos comem coisas saudáveis, eles vão na escola. A menina tem 18 anos e já trabalha. Eu não quero me separar deles, mas pode ser que o conselho tutelar tire ele de nóis. A situação ta complicada, nois tamo tudo angustiado” – desabafou.

Suas mãos entrelaçaram, sua voz forte tremeu e todos que conversavam em volta permaneceram em silêncio. Suas palavras foram diferentes das quais estão acostumadas a ouvir. Foram palavras de uma mãe com medo de perder os filhos e não apenas de uma mulher com medo de ser despejada na terra onde reside há 7 anos.  

O futuro das famílias é incerto. Há quem diga que permanecerão, há quem diga que não, porém, estão na luta. Com lágrimas ameaçando a cair, abraços amedrontados e fiscalização forte em volta às residências as famílias vão plantando, as crianças vão brincando e as risadas saem quando algo inusitado, como a fuga das cabras, acontece em meio às conversas sérias. 

2 comentários:

  1. SENSACIONAL !! Ao ler o texto senti uma mistura de alegria ao relembrar da cena das cabras e ao mesmo tempo, tristeza em ter presenciado o relato emocionado da mãe... Nini (o cara que correu com a repórti MariMari)

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    1. kkkkkk, nunca pensei que fosse tão divertido correr atrás de cabras hahahaa. Vaaaaaaaaleu Nini, esse momento ficou para a história :)

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