E no dia em que todos falavam sobre o fim do mundo, DanDan,
menino dos olhos arregalados, corpo pequeno com apenas uma cueca azul, cabelos
embaraçados e sorriso arteiro, mal se preocupava e queria mesmo saber como
tirar as cabras do cercado.
Entre a preocupação de sua mãe em ser despejado do local em
que reside há sete anos e o olhar aflito de suas irmãs mais velhas, as quais já
conseguem entender a situação, o garoto, que já estava com os pés sujos de
terra, foi esperto, e sem nenhum ruído tirou a trava cercado.
Entre a conversa séria dos adultos, sobre violência,
desapropriação e brigas, veio um grito:
- As cabras saíram,
corre.
Em seguida correu homem de chapéu e bigode grande, correu a
guerreira que falava sobre a luta e também correu repórter e um voluntário do
local, os quais estavam curiosos para ver a captura dos animais.
Em um único grito da mulher guerreira, as cabras pararam de
correr. No segundo grito enfileiram-se e seguiram de volta para o cercado.
Sentado ao colo de sua mãe, Dandan assumiu aos risos que foi
ele quem abriu o cercado e após os risos pela rápida fuga dos animais, a
conversa voltou a ser séria, o gravador foi ligado e as lágrimas daquela mulher
que trouxe as cabras de volta ameaçaram a cair quando falou da possibilidade em
se separar dos filhos.
“Moça, os meus filhos comem coisas saudáveis, eles vão na
escola. A menina tem 18 anos e já trabalha. Eu não quero me separar deles, mas
pode ser que o conselho tutelar tire ele de nóis. A situação ta complicada, nois
tamo tudo angustiado” – desabafou.
Suas mãos entrelaçaram, sua voz forte tremeu e todos que conversavam
em volta permaneceram em
silêncio. Suas palavras foram diferentes das quais estão acostumadas
a ouvir. Foram palavras de uma mãe com medo de perder os filhos e não apenas de
uma mulher com medo de ser despejada na terra onde reside há 7 anos.
O futuro das famílias é incerto. Há quem diga que permanecerão,
há quem diga que não, porém, estão na luta. Com lágrimas ameaçando a cair,
abraços amedrontados e fiscalização forte em volta às residências as famílias vão
plantando, as crianças vão brincando e as risadas saem quando algo inusitado,
como a fuga das cabras, acontece em meio às conversas sérias.
SENSACIONAL !! Ao ler o texto senti uma mistura de alegria ao relembrar da cena das cabras e ao mesmo tempo, tristeza em ter presenciado o relato emocionado da mãe... Nini (o cara que correu com a repórti MariMari)
ResponderExcluirkkkkkk, nunca pensei que fosse tão divertido correr atrás de cabras hahahaa. Vaaaaaaaaleu Nini, esse momento ficou para a história :)
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